Dª Chiquita  e  "Seu" Neném


       Estamos sentados no bar. São dez horas da manhã do domingo, dia abençoado.

       Já jogamos futebol, sentimento do dever cumprido.
       
       Filhos, netos e amigos se confraternizam.
       
       Nenhum compromisso, dia livre. Tudo na Paz, todos com saúde, graças ao Bom Deus.  Na realidade, todas as pessoas normais ainda estão se levantando.

       De repente, no meio da zoada do boteco, das brincadeiras, das gargalhadas, das conversas jogadas fora e dentro, Onésimo fala, como em todos os santos domingos de nosso convívio, desde que o mundo é mundo:

       - Tenho que ir embora. 

       Perguntamos, como sempre, já sabendo a resposta:
       
        - Porque tão cedo, Pai? 

       - Cedo nada. Já passa das dez. Chiquita está me esperando.

       Brincamos com ele. Brigamos de mentira. Ficamos bravos. Fazemos cena. Tentamos usufruir mais um pouco da sua presença, que nos é tão cara.  



       - Dª Chiquita não chegou da missa. Não tem ninguém em casa. Fica mais um pouco.

       - "Não posso. Chiquita está me esperando."
         
          E ponto.

       Na realidade  é ele que está aflito para voltar para Chiquita.  Sente saudades, depois de três horas que passou sem o seu convívio. Após 68 anos de casado, se sente desconfortável com sua ausência, quer estar junto dela.

       E depois que conhecemos a  simplicidade de Dª Chiquita, sua presença de espírito e vivacidade, sua bondade no olhar e no falar,  o carinho expressado na delicadeza do tratamento com seu marido "Neném" e com todas as pessoas que a cercam é que entendemos essa  necessidade de estar perto, essa carência de senti-la junto.
       
       Chiquita... É com ternura e amor que ele repete: Chiquita...
       Nenhum  argumento é capaz de detê-lo, nenhuma conversa lhe desvia a vontade, e concordamos com sua partida, um pouco órfãos do Pai,  pois um  valor mais sublime nos confronta   e nos parece dizer:
                       
                       "Meus amigos, companheiros,
                       Estou indo, estou levantando;
                       Gosto muito de vocês,
                       Mas Chiquita está me esperando."
R.Oliva               
Setembro 2006


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