O Comendador irado

       Em qualquer comunidade que se reúne há toda espécie de pessoas. A pelada não poderia ser diferente. Sempre há bons de bola, esforçados, e péssimos. Há espertos, brigões, gozadores, mal-humorados, polêmicos.
       Há também aqueles interessantes, excepcionais, que a gente jamais esquece.

       O Edson era um sujeito paradoxal.  Foi levado à pelada pelo seu cunhado Nenzinho, por volta de 1976. Aparece nas fotos do Antonio Castilho, de camisa branca, ao lado do Elias.
       No convívio social era um boa praça, ponderado, gente fina.  Mas quando entrava na quadra, era duro, irascível, marcador implacável, às vezes até violento. Toda vez que vinha jogar era sinal que ia haver barulho.

       Na pelada muitas vezes se chegava ao bate boca, agressões verbais e ameaças "na próxima te pego..." 
       Mas sempre havia a turma do deixa disso, como bem lembrou Antonio, e a presença mediadora do Comendador, que não deixava as desavenças avançarem para uma gravidade maior.

       Naquele domingo não teve jeito. Já estavam acontecendo entreveros verbais entre  Edson e Celso Castilho, que gostava de dar um olé no adversário, principalmente, nos mais bravos, que reclamavam e davam botinadas. Gostava de jogar perigosamente. Depois de algumas entradas mais ríspidas, jogadas desleais e juramentos de "te quebro na próxima", rolou o conflito.
       Edson partiu para cima e os dois passaram do futebol para boxe. Eram    ganchos de direita e esquerda, diretos abaixo da linha da cintura, pescoções e pancadas.  No calor da disputa  evoluíram para o Karate, Kung Fu, TaeKendo e outras especialidades mais radicais.

       Wagner corre ao encontro dos dois pugilistas para tentar separar (segundo seu depoimento), e toma um soco ameaçador. Idalmo entra no meio e leva um "porongo" na orelha. (Também na tentativa de impor uma trégua, seguindo a mesma versão do Wagner). Acreditem se quiserem.  Antonio ingressa no rolo e aumenta o tumulto. 


       

       O Edson tinha se encostado à parede e quem se aproximasse levava, principalmente se fosse da família Castilho, que na sua visão, estavam chegando para agredi-lo.
       O arranca-rabo começava a ficar sério, quando Onésimo resolve intervir.

       Como era de praxe, toda vez que tinha uma confusão, o comandante entrava com sua ponderação de estadista, sua autoridade, seu bom senso, e sempre conseguia acalmar os brigões.

       Só que desta vez durante o trajeto entre a geral e a confusão, falou mais alto seu coração de pai e Onésimo ficou muito irado (no arcaico sentido). Vendo seus filhos serem agredidos, às favas considerações parlamentares.

         Lembrando seus tempos de luta-livre no Ginásio Paissandu, chegou e dividiu no meio. Deu uns caratipapos no Edson. Incrível!! Socou o litigante, sem avisos e preliminares. Não  uma agressão a um estranho, numa briga de rua. Foi como se fosse realmente um pai furioso (bastante furioso) que separa filhos brigões e dá uns safanões em quem provocou a desavença.

       - "Você só vem aqui para aprontar confusão, é preciso acabar com isso!", repreendeu enérgico ao desordeiro, que assustado e atônito, imediatamente cessou  suas agressões, pegou sua sacola e foi embora, sem retrucar e nem mesmo olhar para trás, talvez envergonhado pela reprimenda que acabara de levar. Nunca mais voltou à pelada.

       Onésimo, que toda vez que alguém vai embora brigado fica constrangido e tristonho, passada a ira logo se arrependeu da sua severidade, mas manteve a pose e o comando. Naquela altura  não podia vacilar. O que estava feito estava feito. E o dissidente tinha merecido.

       Hoje, se perguntarmos ao Comendador se ele lembra do dia em que ficou irado e deu uns cascudos no Edson, vai afirmar:

        "Qual Edson, não teve isso não, você está inventando".
                       
                                       *  *  *
R.Oliva
Setembro 2006
Causos da pelada do Vovô


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