UM JOGO HISTÓRICO NO ESTÁDIO ANTONIO CARLOS


Estávamos em 1972, em plena fase efervescente da Redentora de Março de 1964. Inexistia o clima de liberdade no Brasil. "Assombrava-nos o fantasma do Comunismo e da ditadura do proletariado" como cansaram de apregoar os militares e seus simpatizantes. Vigilância furtiva e combate sem trégua contra aqueles que ousavam insurgir contra o regime vigente consistiam práticas rotineiras.

Todavia, estas palavras iniciais são o pano de fundo para o "causo" que será narrado, a seguir:

Os consagrados "atletas" do famoso Medelin, ou Mug, ou mesmo o time da rua Sabinópolis 41, continuavam a jogar suas peladas pelos campos de várzea de nossa Capital ( não existem mais; daí a absoluta falta de craques hoje que são na maioria fabricados pelos marqueteiros de plantão ou pela imprensa). Já se disse que a imprensa é o quarto poder e não há dúvida quanto a isto; pode colocar na sarjeta como também pode incluir o indivíduo nas alturas.

Na época, eu trabalhava na MBR e na Imprensa Oficial. Na MBR acompanhei desde o início a implantação do projeto de extração de minério de ferro na Serra do Curral. Na Imprensa Oficial, prestava serviços na Redação do jornal "Minas Gerais". Neste local, um dos meus serviços consistia em redigir editoriais, tecendo longas e enfadonhas loas ao Governo de plantão, saindo de lá muitas vezes após a meia noite.

Durante a execução do projeto da MBR, foi contratada uma famosa empresa americana de construção de grande porte - a Bechtel -, que se instalou aqui em Belo Horizonte com seu pessoal técnico ( engenheiros, administradores etc).

Acredito que para agradar seus empregados, mas também como uma forma de fazer "marketing" (palavra e atividade muito desgastada hoje no Governo do PT), a Bechtel montou um excelente time de futebol, no qual despontavam craques de renome, como Zuca (América e um time da Venezuela), Adair (Siderúrgica e Atlético), Ari (campeão brasileiro pela Seleção Mineira em 1963 e jogador do América) e um goleiro excepcional, colega meu na MBR, chamado Delson. Pontificava mais no futebol de salão, mas era muito bom guarda valas (como dizem os Portugueses).





"Empresariei", então, sem interesses financeiros, uma partida entre o time do Medellin, Mug ou da Rua Sabinópolis 41, que foi realizada com portões abertos, juiz da Federação e, mais importante ainda, no saudoso estádio Antônio Carlos, que pertencia ao ex-glorioso Clube Atlético Mineiro.

Para variar, o time do Carlos Prates apresentou-se com uma velha camisa da Portuguesa de Desportos, já desgastada pelo tempo, as cores verde e vermelha quase que totalmente desbotadas, chuteiras rotas e meias furadas.Por outro lado, o adversário inagurava o seu novo uniforme: calções pretos, camisas listradas verticalmente de amarelo e preto.Exatamente o uniforme de um dos maiores vencedores da Taça Libertadores da América, o Penãrol, do Uruguai.

Acho que o Medellín estava assim formado: Wagner, Marcos, Chico, Celso, Ringo, Kleder, Nenzinho, Elias, Newton e mais outros dois cujos nomes não me recordo. Fiquei na reserva do Wagner.

Até os 40 minutos do segundo tempo, perdíamos de 3 x 0. Para variar houve ameaças de sururu contornado pela turma do deixa disso. O Medellín não fez feio tendo em vista a qualificação do adversário que, além dos craques acima mencionados, contava ainda em seu elenco com outros elementos de valor.

Eis que, no fim do jogo o Kleder, que possuía um chute excepcional, com sua canhotinha acertou o ângulo superior direito do goleiro deles, o Delson, que ficou bastante inconformado e nervoso por ter tomado este gol, praticamente indefensável. Parece que ele e seus companheiros de time achavam que venceriam fácil; em suma uma barbada, recheada com uma sonora goleada. Ledo engano...

Não havia a mínima possibilidade de reação, mas mesmo assim, por via das dúvidas, o soprador de apito deu por encerrada a partida, com a confraternização usual dos litigantes (termo completamente em desuso).


Antonio Castilho de Souza
Agosto de 2006

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